“(…) Em consequência da Portaria do Ministério do Reino que me foi expedida em 23 do corrente, para entregar à disposição do Ministério da Marinha e Ultramar 150 exemplares (…) de Missais, e outros tantos de Rituais Romanos, tenho a honra de dizer a V. Ex.ª, que mandando examinar que porção destes livros existe nos Armazéns da Imprensa Nacional soube que apenas temos trinta e tantos exemplares dos Missais e quase igual número dos Rituais Romanos; não sendo por isso possível satisfazer à requisição do Ministério da Marinha, nem mesmo entregar-lhe os que há, porque a sua falta se tornaria desde já sensível, e levaria os especuladores a mandá-los vir do Estrangeiro, destruindo assim uma valiosa propriedade da Imprensa Nacional. O meu infeliz irmão, e meu antecessor representou a V. Ex.ª quanto era necessárui reimprimir os Missais, Breviários e Rituais Romanos, e eu já tive a honra de fazer a V. Ex.ª igual representação, respondendo-me V. Ex.ª que me autorizaria a contrair um empréstimo para esse fim. Procurarei achar quem me emprestasse, na qualidade de Administrador da Imprensa Nacional, devidamente autorizado, 6.000 réis quantia indispensável para empreender a reimpressão, mas, como dei parte a V. Ex.ª, pedia-se-me um juro que absorveria quase todos os lucros que a Imprensa Nacional poderia tirar. Entretanto a necessidade da reimpressão detes livros é urgentissima (…) A Impressão dos Breviários, Missais, e Rituais Romanos, que desde antigo tepo se costuma fazer na Imprensa, dá a esta Casa o lucro de seis a sete contos de réis, depois de exausta uma edição de 2500 exemplares. É verdade que esse lucro é moroso, porque para vender aqueles exemplares são precisos muitos anos, mas a grande despesa que faz uma edição semelhante, e as dificuldades que tem a vencer-se aconselha a que dela se não extraía um numero menor. Além da vantagem dos seis a sete contos de reis deve considerar-se que muitos braços se empregam nestes trabalhos, que duram mais de um ano, efectivamente. Ora a ultima edição destes livros está quase extinta, e se outra se não fizer sem perda de tempo não pode seguir-se as vantagens que deixo mencionadas , e os especuladores, como já disse, mandá-los-hão vir de fora para os venderem aqui por alto preço, tirando-nos ao mesmo tempo um ramo de comercio, porque grande parte ddos nossos Missais e Breviários são exportados para o Brasil. Tenho ainda a notar que se desgraçadamente se não fizer uma nova edição sofrerá a Imprensa Nacional mais outro dano, pois que pela necessaria importação de semelhantes livros estrangeiros ficarão inutéis as chapas das estampas, primores de Arte, que se admiram nos Missais e Breviários, e que custaram avultadas somas. (…) fiz uma semelhante exposição ao Ex.mo Ministro da Fazenda, e que ele benignamente tem auxiliado este Estabelecimento, habilitando-me a pagar muitos contos de reis, como brevemente farei ver a V. Ex.ªm com uma conta da gerência da minha adminitração desde o 1º de Outubro de 1844 a Julho deste ano, mas aqueles meios que o mesmo Ex.mo Snr. Me forneceu como adiantamento da importancia de impressos para o Ministério da Fazenda apliquei-os ao pagamento de dividas desta Casa, que venciam juro, e nomeadamente ao Banco de Lisboa, que está inteiramente pago do empréstimo de 8.000.000 réis e seus juros feito à Imprensa Nacional no tempo do meu infeliz irmão, para a compra das machinas e demais objectos tipográficos que ele trouze de França e Inglaterra.
Se pois o governo de S. Majestade não der alguma providencia que me auxilie a fazer a reimpressão dos Missais e demais livros mencionados, seguir-se-hão os males que deixo ditos; porque o Cofre da Imprensa Nacional apenas, e dificilmente, pode acorrer à sua enorme despesa ordinária, com quanto se lhe [?] um futuro lisonjeiro pelos resultados que infalivelmente há-de colher dos muitos aperfeiçoamentos que hoje enriquecem esta vasta oficina, e que ainda não tem tempo de produzir os seus vantajosos efeitos. (…) Lisboa etc 29 de Agosto de 1845 .= Ill.mo e Ex.mo Snr. António Bernardo da Costa Cabral = O Administrador Geral = F. A. Pereira Marecos.” (pp. 133-136)