“(…) Desejando contribuir quanto em minhas forças caiba para o progresso do estabelecimento que desde 6 de Outubro de 1910 me foi dado administrar, tenho empenhado esforços no sentido de levantar o mais possível o nível moral e intelectual do pessoal da Imprensa Nacional de Lisboa, interessando-o mais ou menos directamente na vida da República e incitando-o sempre que possível a actualizar o seu modo de ser artístico e a acompanhar o que de mais adiantado se faz hoje no estrangeiro. Nesse sentido orientei aqui a comemoração do 2.º aniversário da República Portuguesa, e de forma por que essa comemoração, que uma comissão de artistas levou brilhantemente a cabo, se realizou, creio estar V. Ex.cia devidamente esclarecido, porquanto o Ex.mo Ministro da Justiça, que representou V. Ex.cia na cerimónia de distribuição de prémios aos artistas classificados nos vários concursos anteriormente efectuados, informou certamente V. Ex.cia do modo como tudo correu. Inauguraram-se, com a honrosa presença do Excelentíssimo Presidente da República, o balneário e o refeitório para uso do pessoal, e realizou-se uma exposição de trabalhos artísticos, que foi mais do que uma promessa, visto haver sido brilhante e ter excedido toda a expectativa. Confesso sinceramente a V. Ex.cia que os artistas da Imprensa Nacional de Lisboa se houveram neste certame por forma digna de todo o elogio e que bem merecem por isso as generosas palavras com que o ilustre Chefe de Estado se lhes referiu e a que se associaram, sinceramente sem dúvida, todas as pessoas que assistiram à verdadeira comemoração do trabalho realizado no dia 3 do corrente. É este facto já hoje de domínio publico, mas, porque oficialmente ele deva constar na Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, venho participá-lo, como é de minha obrigação, a V. Ex.cia a fim de que, se V. Ex.cia assim o entender razoável, e à semelhança do que em tempos idos se usava praticar, esta minha comunicação seja tornada pública no Diário do Governo, servindo assim de incentivo futuro a todos os empregados, artistas e operários da Imprensa Nacional de Lisboa, que, sem espirito de lisonja, são cada vez mais dignos de simpatia e da consideração dos poderes públicos.
Esperando que V. Ex.cia tome na conta que julgar digno o presente relatório, ouso aproveitar o ensejo para expor a V. Ex.cia que reputo de máxima conveniência e interesse, não só para bem da indústria tipográfica em geral, a realização em Outubro de 1913 de uma exposição nacional de artes gráficas, que seja como que o passo definitivo para uma exposição internacional da especialidade em Outubro de 1914 e de cujos resultados morais e materiais a ninguém será licito duvidar. Estou certo de que V. Ex.cia, que tão desveladamente tem sabido olhar pelos interesses do Estado ligados à Imprensa Nacional de Lisboa, será o primeiro a concordar com a orientação que resulta de uma tal ideia, que, repito, não pode deixar de importar benefícios para a República. Oportunamente terei ocasião de desenvolver melhor a forma por que julga realizável a exposição nacional a que acima me referi; por agora limitei-me a significar mais uma vez a V. Ex.cia os protestos da minha mais alta consideração.
Saúde e Fraternidade.
Lisboa 15 de Outubro de 1912-
Ex.mo Sr. Ministro do Interior.
O Administrador Geral
Luís Derouet”
(pp. 51- 53)