“(…) Respondendo ao ofício que V. E. me dirigiu ontem, em que me ordena que dê todas as informações que possa, esclarecer as duas seguintes proposições, que o Senhor Deputado António Pereira do Reis afirmára na Câmara Electiva, em Sessão de 25 do corrente – a saber:
1º que eu, em consequência de ordens que tinha recebido havia cortado as partes mais importantes do extracto do seu discurso sobre os negócios do Padroado –
2º que eu tinha ordem do Senhor Visconde de Castro para velar sobre os extractos das Sessões, e especialmente sobre os que pertenciam aos membros da oposição.
Tenho a honra de declarar a V. E. o seguinte, sob a minha mais restrita responsabilidade: Que nunca recebi ordens algumas do Governo nem verbais nem escritas, para cortar os extractos dos Discursos do Sr. Pereira do Reis, ou de qualquer outro Senhor Deputado; sendo certo que eu não contei nem alterei jamais extracto algum dos Discursos dos membros das Camaras Legislativas: Que o Snr. Visconde de Castro não me deu nunca ordens ou insinuações relativamente à publicação dos discursos de quaisquer membros das referidas Câmaras.
Por esta ocasião cumpre-me dizer a V. Ex. que em virtude de ordens que tenho de Empresa do Diário do Governo, ordens que eu desempenho não como Administrador Geral da Imprensa Nacional, mas como oficial de Secretaria de Estado, interessado naquela Empresa, não faço publicar o extracto das sessões da Câmara dos Senhores Deputados sem que venha assinado pelo Taquigrafo da mesma Câmara Clemente dos Santos, o qual, na conformidade do seu contrato com a Empresa do Diário do Governo está obrigado a certas disposições. E tendo-se apresentado na Imprensa Nacional pela meia noite de 18 de Janeiro último Ricardo José de Sousa Neto, amanuense da Repartição Taquigráfica, com um extracto do Discurso a que aludira o Sr. Deputado Pereira dos Reis, para aparecer no Diário do dia imediato, que não vinha o dito extracto assinado pelo taquígrafo Santos mandei um moço da Imprensa a casa do mesmo Taquigrafo com o extracto de uma carta minha dizendo-lhe que autorizasse com a sua assinatura, segundo o costume, aquele extracto, se nisto conviesse.
Pelas três horas da noite voltou o moço com o extracto competentemente assinado, sendo estampado no Diário do Governo tal qual viera das mãos do Taquigrafo.
Com o que deixo dito me parece ter satisfeito às ordens de V. E.
(…) Lisboa e Administração Geral da Imprensa Nacional em 26 de Abril de 1846.
Ill.mo e E.mo Sr. Duque de Saldanha. Min. E Sec. De Estado dos Negócios do Reino
O Administrador Geral
F. A. P. M.”
(PP. 1 a 4 do documento 297 – Numeração atribuída aos documentos resultam de contagem nossa, uma vez que estes só estão numerados até ao 296.)