«Ao dito»
«Ill.mo e Ex.mo Snr. = Em 11 de Dezembro de 1835 criou o Governo de Sua Magestade uma Comissão especial para vir examinar o estado do Estabelecimento da Imprensa Nacional, e os membros de que ela se compos fui eu, e os Snr. João Vieira Caldas, e o Maquinista Gaspar José Marques. Pelas nossas primeiras indagações conhecemos que neste Estabelecimento se estava fazendo uma despesa extraordinária, que logo nos pareceu inútil por não corresponder aos fins para que se destinava. Era ela empregada em construir uma grande máquina de cilindros para imprimir, à maneira de algumas hoje em prática em Inglaterra, e que se dizia havia de imprimir de ambos os lados do papel, o que é de uma suma vantagem. Mas esta grande máquina, composta de dois grandes cilindros de madeira em que havia já mais de um ano que se trabalhava, estava ainda mui longe de estar concluída, não apresentava proveitosos resultados, particularmente por serem as suas principais peças cilindros de madeira, sujeita a uma imensa resistencia, e ter já consumido de despesa 3:507.207 réis, vendo isto a Comissão, e não querendo que se atribuisse à espirito de partido o suspender imediatamente a obra, chamou o seu autor, e lhe perguntou que trabalhos tinha ainda que fazer, em que tempo os conduziria, e se concluídos eles, estava persuadido que a máquina produziria o seu efeito. Respondeu ele que em vinte dias todos os trabalhos estariam concluídos; e em consequência desta resposta a Comissão lhe mandou abonar todas as despesas que neste tempo fizesse para os concluir. Mas chegou o prazo pedido, a obra estava quais no mesmo estado, e seu autor pediu à Comissão ao menos mais 200 réis para certas peças que dizia ainda lhe faltavam. Então se persuadiu completamente a comissão, e com especialidade o seu Membro Gaspar José Marques, habilissimo Maquinista, que tal obra nem se fazia, nem podia corresponder aos fins para que se destinava. Nestas circunstâncias para salvar toda a sua responsabilidade pediu a Comissão ao Governo houvesse por bem nomear outra comissão especial de pessoas inteligentes da materia, as quais viessem examinar a máquina, e depois dessem a sua opinião sobre o merecimento dele. Esta nova Comissão foi nomeada por Portaria de 9 de Fevereiro de 1836 e as pessoas para ela designadas foram o actual membro da Comissão Gaspar José Marques, João José Lecoq, e o inglês Samuel Clegg, que então creio dirigia a máquina de vapor; vinda para a Moeda. Vieram estes com efeito examinar a máquina, e a sua opinião foi, que ela não podia produzir o efeito para que fora construída e ainda quando o pudesse fazer, precisava de uma forte máquina de vapor para mover os grandes cilindros de madeira, que não era possivel mover regularmente sem esta grande força motriz. Esta resolução foi comunicada ao Governo em 18 de Fevereiro do mesmo ano; e em 20 do mesmo mês resolveu definitivamente o Governo, que parasse a obra. Eis aqui a história sucinta desta máquina, e cujas mais particularidades constam dos diversos ofícios e Portarias de todo o mês de Fevereiro de 1836, o que tudo deve estar na Secretaria dos Negócios do Reino. Agora vê V. Ex.ª que toda essa grande despesa de 3:507.207 réis foi absolutamente perdida, e que a tal máquina […] se está diáriamente arruinando, particularmente na parte de madeira de que é construída, e que é do interesse da fazenda deste Estabelecimento aproveitar ao menos o valor que ainda conserva, que é das madeiras, ferro, e bronze de que se compõem. Nestas circunstâncias rogo a V. Ex.ª haja por bem autorizar-me a dispor dos artigos já mencionados de que se compõem a dita máquina, para com o produto deles ver se ao menos, amortizo algum porção da grande dívida de papel em que se acha este Estabelecimento por falta da regularidade de pagamentos pelas diversas Repartições do Governo. Isto que peço me parece justo, porque, julgada como esta por inutil a dita máquina, porquanto mais tempos se conservar no estado em que está, maior ruina irão recebendo os materiais de que se compõe, e por conseguinte menos valor todos os dias eles irão tendo, e maior perda sofrerá a fazenda deste Estabelecimento. […] Lisboa e Administração Geral da Imprensa Nacional 6 de Junho de 1838 = Ill.mo e Ex.mo Snr. António Fernandes Coelho. Secretário de Estado dos Negócios do Reino = José Liberato Freire de Carvalho.» (pp. 41 v.-45)