«Para conhecimento do pessoal se comunica:
Que o médico interino da Caixa de Socorros, Dr. Carlos Silva, elaborou o seguinte relatório acerca das condições higiénicas da Imprensa:
Exm.º Sr. Diretor-Geral da Imprensa Nacional – Cumprindo o preceituado nos n.ºs 1º e 9º do regulamento em vigor, visitei num dos últimos dias todo o edifício, a fim de verificar do estado de higiene em que ele se encontrava e, pelo que observei, entendo que é regular no estado geral, havendo no entanto algumas lacunas, as quais ouso apontar a V. Ex.ª, que provavelmente as desconhece, certo de que V. Ex.ª prontamente as preencherá. A parte primacial para a boa higiene é a constante renovação do ar e este é, na maioria das oficinas, insuficiente, não por falta de bandeiras ou ventoinhas, mas porque aquelas se encontram sempre fechadas e estas não as põem a funcionar. Onde encontrei a atmosfera mais viciada, por aquela falta, foi nas seguintes oficinas:
a) Impressão, onde além de se cometer o erro de estarem todas as bandeiras encerradas, assunto sobre o qual recebi uma representação que junto e que julgo justa, se faz a varredura à hora da laboração, o que é extremamente prejudicial para o pessoal, prática que deve ser modificada imediatamente;
b) Fundição, que pela natureza do trabalho que ali se executa deviam estar permanentemente abertas, ao menos de um só lado, todas as bandeiras.
c) Gravura, que necessita uma boa ventilação na casa onde se executam as lavagens, nas quais são empregadas matérias que julgo nocivas à saúde; e, finalmente, na oficina de
d) Eletricidade, cuja casa onde estão os dínamos necessita uma permanente renovação de ar, para o que se poderiam, talvez, abrir clarabóias.
Ao viistar o Armazém de Impressos o pessoal que ali trabalha chamou a minha atenção para o local onde se faz a venda de impressos, em que se estabelece uma corrente de ar que os prejudica, provocando-lhes constantes constipações, catarros, etc. Se o guichet da venda pudesse passar para o lado esquerdo evitar-se-ia, até certo ponto, aquele mal-estar de que se queixam e que, realmente, os pode prejudicar. O sistema de escarradeiras, não sendo do mais aperfeiçoado, serve no entanto, sendo porém de boa prática o uso de um líquido desinfetante […]. A forma como se faz na Oficina de Composição a limpeza das caixas que contêm o tipo é contra todas as indicações da boa higiene, e era de urgente necessidade pôr a funcionar o aspirador que ali existe, a fim de evitar não só intoxicações como também todas as doenças que possam ser transmitidas pela poeira. Este aparelho devia ser aproveitado para substituir a varredura em todo o Estabelecimento. […] Cumpre-me também chamar a atenção de V. Ex.ª para o estado em que estão as retretes dos pátios onde os dejetos se acumulam juntamente com papéis, o que, se possivelmente poderá constituir um foco perigoso para a saúde dos que trabalham na Imprensa nacional, é certamente indicativo de pouco asseio, convindo uma propaganda educativa entre o pessoal. Era meu parecer que, além da permanente limpeza das retretes, elas deveriam ser lavadas todos os dias, após o findar do trabalho nas oficinas […]. Quando da visita a que me estou referindo fui abordado por um grupo de empregados que me solicitou a minha atenção para a chaminé que faz a tiragem da casa onde se derrete o metal, trabalho que, ao executar-se, conforme me informaram, enche as oficinas não só de fumo como também de um cheiro insuportável. Como remédio para atenuar este mal, que reputo grave, só vejo a transferência de tais serviços para local mais apropriado, ou então a construção duma chaminé com dois metros mais alta que as propriedades existentes num perímetro de cem metros, chaminé que terá de existir nestas condições seja qual for o local da transferência. Há, várias vezes, necessidade de receitar banhos simples a contribuintes cujas doenças podem ter caráter contagioso ou pelo menos desagradável para os indivíduos sãos. De necessidade era, pois, que no Balneário houvesse uma tina reservada para esses tratamentos. Ao visitar aquelas dependências, que encontrei irrepreensivelmente asseadas, vi que se poderia talvez utilizar uma das cabines de banho de aspersão para o de imersão, sem deteriorar o aparelho ali existente, visto que nela cabe a tina, para o que procedi às respetivas medidas. Creio que posto em prática este alvitre, além da medida higiénica que se tomava, era uma manifesta economia para a Caixa de Socorros. […] Lisboa, 1 de abril de 1921, Dr. Carlos Artur da Silva.
Que, em virtude do parecer acima, e verificado que a principal deficiência apontada é da responsabilidade do próprio pessoal, que conserva as bandeiras fechadas e as ventoinhas sem funcionamento, se recomenda instantemente aos chefes das oficinas que dêem e façam dar execução fiel aos alvitres preceituados pelo médico do Estabelecimento, e, na parte que propriamente lhe respeita, ao encarregado do serviço de limpeza que observe e faça observar rigorosamente todas as disposições regulamentares e recomendações feitas acerca da higiene da Imprensa.
Que, relativamente aos demais alvitres que dependem desta Direção-Geral, providências imediatas serão dadas no sentido de se acatarem em quanto seja possível, muito sendo todavia para lamentar que ainda se torne necessária uma propaganda educativa entre o pessoal, a fim de se evitar o estado em que foram encontradas as retretes dos pátios, e que razão alguma justifica.»