«Para o conhecimento do pessoal se comunica:
Que em sessão do Conselho Administrativo e Disciplinar, de 31 de agosto findo, foi presente o seguinte parecer da comissão nomeada em sessão do mesmo conselho de 4 de maio do corrente ano, para estudar o ressurgimento da fundição de tipos da Imprensa Nacional:
Exmo Sr.Presidente e mais membros do Conselho Administrativo e Disciplinar da Imprensa Nacional de Lisboa – A comissão nomeada pelo digno Conselho Administrativo e Disciplinar em sua sessão de 4 de maio findo (Ordem de Serviço n.º 446), para apresentar no prazo de quinze dias um relatório em que detalhadamente expusesse a forma mais prática de realizar o ressurgimento da fundição de tipos da Imprensa Nacional de Lisboa, a fim de corresponder às exigências da tipografia em Portugal, ao dar começo aos seus trabalhos, reconheceu logo de princípio a impossibilidade de, dentro do prazo marcado, poder cabalmente desempenhar o seu mandato, não só pela escassez de tempo como pela falta de elementos que a habilitassem a satisfazer, pelo menos, parte do que lhe foi exigido pelo digno Conselho Administrativo e Disciplinar; no entanto e apesar de todas as dificuldades foi prosseguindo nos seus estudos com os elementos que os seus membros pouco a pouco, com bastante custo, iam colhendo, não podendo evitar, apesar da melhor boa vontade, que fosse moroso o andamento dos trabalhos.
Estava esta comissão disposta a redigir o seu parecer, pondo em destaque as conclusões e alvitres a que havia chegado, quando recebeu do Sr. Manuel Lopes Canhão, fundidor desta Imprensa, um documento que se lhe afigurou de subido valor para o fim que se tem em vista. Consta esse documento de um plano completo de organização da fundição de tipos, que, pela forma largamente por que está elaborado, representa um estudo minucioso do assunto e uma honesta boa vontade de o solucionar proveitosamente.
Como o citado plano tenha muitos pontos de contacto com os trabalhos feitos, e a sua essência seja quase a mesma, não teve esta comissão dúvida alguma em o aceitar, porque como plano de organização é bastante desenvolvido, devendo, porém, levar algum tempo a sua realização. Se o digno Conselho Administrativo e Disciplinar o julgar em condições de ser posto em execução, lembra esta comissão a vantagem de se começar a pôr em prática, simultaneamente, nas três secções de que o assunto depende; Gravura, Fundição e Armazém de Tipos.
Não é só agora que a direção do estabelecimento se vê embaraçada para solucionar o problema da fundição de tipos da Imprensa Nacional, de forma a poder competir, em preço e diversidade de carateres modernos, com as fundições estrangeiras que invadiram o nosso mercado. Este assunto tem prendido a atenção de todos os dirigentes da Imprensa.
Como se afirma no presente plano, já em 1821 o caso foi ventilado no Parlamento; e nas primeiras sessões do Conselho Técnico, em 1912, um dos primeiros assuntos tratados por este corpo consultivo, foi o do ressurgimento da fundição de tipos da Imprensa Nacional. Um bem elaborado relatório apresentado, nessa data, pelo chefe da oficina de fundição, Sr. Francisco António dos Reis Pinto,, foi objeto de larga discussão entre os seus membros em algumas sessões do dito Conselho. Dos alvitres, desde então até hoje propostos, alguns se têm convertido em realidade beneficiando de certa maneira a citada oficina. Infelizmente não foi seguida a orientação aconselhada no referido relatório, e mais tarde a Grande Guerra inutilizou tudo o que havia sido projetado. Urge, portanto, que hoje se faça o que se não pode fazer, por razões várias, e se encare bem de frente o problema exposto no plano agora submetido à apreciação do digno Conselho.
A oficina de gravura, como base de todo o ressurgimento, tem de ser dotada de tudo quanto lhe falta, tanto de material como de pessoal, para bem desempenhar a sua missão. No entanto, existem já nas suas virtudes bastantes punções que há muito esperam a sua vez de figurar no Catálogo.
A oficina de fundição de tipos precisa igualmente de alguns maquinismos necessários para melhor aproveitamento de tempo e de braços a fim de que o barateamento seja um facto, além de necessitar conhecer os modernismos introduzidos nas fundições estrangeiras que nos estão invadindo o mercado, o que se poderá conseguir enviando ao estrangeiro alguém com competência, para estudar os novos processos de trabalho e de organização usados nas melhores casas do género , com as quais, atualmente, não podemos concorrer, ainda que de momento se barateasse a venda do tipo. Entretanto poderá ir fundindo os punções existentes na oficina de gravura, as novas letras ornadas, etc, o que tudo junto dará um razoável apêndice ao catálogo de tipos deverá ainda ter uma escrita montada de forma a saber-se de momento, com clareza e precisão, qual a produção, entrada, existência e consumo de matérias primas, óleos, etc., para a sua laboração, a fim de não se repetir o que agora sucedeu a esta comissão que teve de recorrer ao armazém de materiais para colher esses elementos.
O armazém de tipos necessita modificar o seu sistema de venda de modo a poder satisfazer rapidamente qualquer requisição e de proceder imediatamente a uma revisão aos tipos comuns vendáveis, mandando fundir todas as sortes que lhes faltarem a fim de estar habilitado a poder fornecer rapidamente qualquer encomenda, embora avultada, que lhe seja feita. A forma de escriturar os diversos produtos vindos da fundição também deve ser modificada de forma a saber-se quais as qualidades de produtos vendidos cujo preço é igual mas cuja designação é diferente. As requisições de galvanos devem ser feitas diretamente à gravura que, por seu turno, requisitará à fundição o seu enchimento, dando entrada no armazém o produto acompanhado das duas contas; isto para se acabar com o facto de figurar na conta semanal da fundição, como produção da mesma, trabalho executado na oficina de gravura.
Estabelecidos estes alvitres e dando-se execução imediata a alguns pontos do plano que possam desde já ser executados, está esta comissão convencida de que, com a boa vontade e um pequeno esforço de todo o pessoal, se conseguirá reconquistar, não diremos todo, mas grande parte do mercado perdido, e o ressurgimento da fundição de tipos da Imprensa Nacional será um facto. Lisboa, 18 de julho de 1928 – A comissão: João Rey Henriques – Luís Ramos Correia – José Augusto Martins – Manuel Cordeiro – Carlos Francisco Marques.
Que, pelos delegados do pessoal, foi apresentada a seguinte retificação ao parecer:
Os punções que ainda não tiveram aplicação serão examinados pela comissão encarregada de designar quais as demonstrações de que deve compor-se cada catálogo, a qual considerará aproveitáveis aqueles que correspondam à evolução da arte tipográfica, pois deve ponderar-se que tendo sido executados há anos podem já relevar atraso artístico como recentemente se verificou ao proceder-se à fundição de um alfabeto dos punções existentes.
Os tipos dos punções aproveitáveis farão parte do resumo do atual catálogo por obedecerem à mesma organização de corpos isolados, orientação que difere da dos catálogos futuros, que serão organizados com famílias completas.
Lisboa, 31 de agosto de 1928 – Os delegados do pessoal ao Conselho Administrativo e Disciplinar, José Marques Domingues – Armando Nunes.
Que o Conselho Administrativo e Disciplinar, tendo ouvido sobre este assunto o chefe da oficina de fundição e o autor do plano, deliberou aprovar o parecer com a retificação apresentada pelos delegados do pessoal e nomear as seguintes comissões.
Comissão para designar quais as demonstrações de que deve compor-se cada catálogo: Alberto António de Barros, compositor; Alfredo Custódio Rocha, compositor; Alfredo Januário de Morais, chefe da secção litográfica; Carlos Francisco Marques, fiel do armazém de tipos; Duarte da Cruz, chefe de secção interino, da oficina tipográfica; Frederico Moreira Feijão, compositor; Manuel Vicente Cordeiro, chefe da oficina de gravura.
Comissão elaboradora de preços e condições de venda: Carlos Francisco Marques, fiel do armazém de tipos; Eugénio Germano Baptista, apartador de tipos; José Augusto Martins, sub-chefe da oficina de fundição; Luís Ramos Correia, chefe da oficina de fundição; Manuel Vicente Cordeiro, chefe da oficina de gravura.
Comissão de redação dos catálogos: António Pereira da Costa Júnior, sub-chefe de secção, interino, da oficina tipográfica; João antónio Rosa, chefe da revisão; João Celestino Teixeira Severino, revisor, interino, de 2.ª classe.»