«2.º relatório dos peritos que acompanharam as diligências a várias tipografias onde se presumia haver sido executado o “Rol de desonra”
No prosseguimento das diligências de que demos conta no 1.º relatório, apresentado em 19 do corrente, fomos encarregados de vistoriar as oficinas do edifício onde está instalada a Associação de Compositores Tipográficos, Travessa da Água de Flor. Na minuciosa busca a que procedemos na oficina tipográfica da mesma coletividade não encontrámos nenhuma prova: capilha, página, linhas do texto ou de epígrafes que nos conduzisse a uma afirmação concreta, positiva. Apenas constatámos a existência de 8 caixas do tipo de corpo 10,4 redondo, velho, e 1 caixa do mesmo corpo em itálico, idênticos ao do texto do folheto em questão, que, aliás, muitas outras tipografias da capital possuem, visto serem da fundição da Imprensa Nacional de Lisboa; os carateres de antigos corpo n.º 12. Iguais àqueles em que é composta a epígrafe: “O que é o front na guerra atual e onde estão os valorosos propagandistas democráticos”, e que são da mesma proveniência; e os carateres de normando, corpo 8, em que são compostas as epígrafes intercaladas no texto, tipo de procedência estrangeira. Não existem, porém, segundo verificámos, nem os tipos dos dizeres do roso: “Rol de Desonra”, nem o tipo egípcio em que foram compostas as palavras: “Em terras de ressurreição, 5 de setembro de 1917”.
No 2.º pavimento do mesmo edifício, numa dependência que nos disseram pertencer à redação de A Greve, e onde existe também uma pequena tipografia, verificámos a existência de duas caixas do mesmo tipo de corpo 10,4, velho, igual ao do texto do folheto, sendo informados de que as referidas caixas estavam ali cedidas, por empréstimo, pela Associação dos Compositores. Se a busca efetuada não nos conduziu a um indício seguro sobre o fim que ali nos levou, um delito de outra natureza averiguámos, qual o de um furto cometido na Imprensa Nacional de Lisboa, e de que demos imediata conta, como nos cumpria, ao Exm.º Diretor da Imprensa Nacional, nos seguintes termos:
Cópia: Exm.º Sr. Diretor Geral da Imprensa Nacional. – Para os devidos efeitos temos a honra de comunicar a V. Ex.ª que as diligências oficiais, a que, como peritos, procedemos ontem no edifício da Associação dos Compositores Tipográficos, Travessa de Água de Flor, diligências que são do conhecimento de V. Ex.ª, fomos com surpresa, encontrar numa dependência que nos disseram pertencer à redação da Greve, sobre um dos galeões tipográficos, um granel de composição, evidentemente furtado da Imprensa Nacional, pertencente à obra Formulário dos Consulados, registada sob o n.º 3616-1915-1916, na Inspeção das Oficinas deste estabelecimento. Feita pelo oficial da polícia judiciária, Sr. Major Ducla Soares, a respetiva apreensão a nosso requerimento e lavrado o respetivo auto, testemunhado por três compositores ao serviço da mesma Associação, foi-nos confiado o mesmo granel, que constitui o corpo de delito junto e do qual mandámos tirar a respetiva prova que juntamos também. Apurámos subsequentemente que as linhas do granel apreendido fazem parte de uma página que o compositor deste estabelecimento, Gerardo Jorge executou e cuja prova igualmente apensamos. Devemos ainda comunicar a V. Exa. que na oficina tipográfica se tinha há tempos dado por falta de algumas páginas da referida obra que tiveram de ser compostas de novo. Saúde e Fraternidade – Lisboa, 23 de novembro de 1917. – J. Gregório Fernandes. – Ricardo Maria da Costa.
Resta-nos afirmar, como o fizemos no 1.º relatório, que pusemos no desempenho da nossa missão toda a boa vontade e toda a correção e imparcialidade que a nossa probidade profissional mandava.
Lisboa, 24 de novembro de 1917.»