“Luis Derouet
A queda da monarquia não foi a queda só dum imperante ou duma dinastia, mas realmente a dum regime que se incapacitara para dirigir a nação. A arbitrariedade do poder produz sempre a subserviente degradação do funcionalismo. E nada mais arduo do que substitui-lo. A oposição republicana deu-nos sem duvida uma grande escola de educação civica, mas não pôde formar completamente, de facto, todo o nosso pessoal administrativo. Com que incertezas tivemos (p.1) por isso de lutar para o seu recrutamento! Quantas incompetencias, velhas e novas, se intrometeram nos seus quadros? É o duro preço da iniciação das instituições. E ainda as conflagrações políticas o vieram atravar, tornando extremamente penosa a transição.
Através porém de todos os baldões, a República pode apontar com orgulho um escol de funcionarios idoneos, da maior distinção, ao seu serviço. Um foi Luis Derouet.
Quando lh confiaram o importante posto, onde a morte, com mão criminosa, o colheu, já ele se havia (p. 2) preparado proficientemente para o lugar. Antes de ser um exemplar administrador da imprensa central do Estado, fôra um admirável organizador da nossa imprensa republicana. E sempre, no seu generoso labor pelo jornal e pelo livro, só inspirou a mais ardente devoção à sagrada causa da instrução pública. Criador e principal sustentaculo da Escola 31 de Janeiro, que fundou a lado do “Mundo”, onde colaborara com França Borges e Mayer Garção, reconstituiu a Imprensa Nacional em centro intensivo de irradiação docente, como se viu notavelmente na brilhante (p. 3) Exposição artistica de ex-libris.
O impulso progressivo que infatigavelmente imprimiu ao nosso primeiro estabelecimento tipográfico, deligenciando junto dos poderes publicos os melhores aperfeiçoamentos oficinais e promovendo dentro dele a mais fraternal cooperação económica, elevou-o a toda a altura das belas tradições do tempo em que do seu seio saíam ilustres propagandistas do desenvolvimento associativo das classes trabalhadoras. Dum [?], com quem tive a fortuna de tratar intimamente na minha mocidade, Olimpio Nicolau Rui Fernandes, que fora em comissão administrar (pp. 4-5) a Imprensa da Universidade de Coimbra, me recordo vivamente com o mais afectuoso reconhecimento. Era um mestre insigne, como profissional e como cidadão. Quanto todos, com a maior confiança nas poderosas faculdades de realização de Luis Derouet, esperaramos ainda da sua lucida inteligencia e da sua tenacodade perserverante! É com entranhável [?] saudade que me inclino ternamente perante a sua querida familia, pranteando de todo o coração, como seu antigo companheiro de campanhas pela Republica, a perda irreparavel que, com ela, sofreu a nação inteira.
Bernardino Machado” (p. 5)