Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    Correspondência Expedida - Ministérios. 1875-1880 - cx. 5
  • Tipo de documento
    Ofício
  • De:
    Administrador-Geral da Imprensa Nacional [Venâncio Deslandes]
  • Para:
    Ministro do Reino, José Luciano de Castro
Transcrição

«Em portaria de 18 de julho último, determinou V. Ex.ª que me fosse enviada uma consulta documentada da Academia Real das Ciências de Lisboa, em data de 17 do mesmo mê, para que, tendo em vista as diferentes considerações ali expostas, e, especialmente, as que respeitam aos inconvenientes resultantes de se terem feito em tempo algumas publicações académicas na Imprensa Nacional, informe o que se me oferecer acerca do assunto, declarando se os inconvenientes apontados podem ser removidos sem detrimento do serviço dos dois estabelecimentos, e com vantagem da fazenda pública; e indicando, outrossim, para o caso de se ordenar a supressão da tipografia da academia, quais os meios que julgue mais acertados e económicos de se levar a efeito a transferência de pessoas e material respetivo para a Imprensa Nacional sem prejuízo dos atuais empregados daquela tipografia.
Contemporânea da famosa corporação a que se acha anexa, é natural e louvável, que a Academia Real das Ciências de Lisboa procure defender e sustente com calor a conservação da sua tipografia […]. Naquele intuito o primeiro relator da consulta acumulou, com algumas páginas brilhantes, toda a espécie de argumentos, e apontou alguns factos de onde pretendeu concluir: – que, além de se não poder admitir em princípio, que uma corporação cujo fim principal, se não exclusivo, é a publicação de obras e escritos por ela julgados proveitosos ao progressos literário e científico, uma imprensa privativamente sua, trabalhando sob sua imediata inspeção, seja apenas um estabelecimento supérfluo, secundário e facilmente substituível por tipografias estranhas, a imprensa da Academia Real das Ciências satisfaz plenamente a todas as exigências do serviço respetivo, achando-se, por sucessivos melhoramentos, em circunstâncias de poder comparar-se com os mais perfeitos estabelecimentos do mesmo género existentes na capital;
– Que o trabalho académico é só por si bastante a alimentar uma imprensa privativa, como se depreende da lista das publicações saídas dos seus prelos;
– Quem nem pelo lado económico se pode objetar contra a conservação da tipografia privativa, por isso que as edições da Academia não representam mais subidos gastos do que as da Imprensa Nacional.
– Que, sobre todas estas razões, abona a conservação da tipografia, o exemplo dos mais eminentes e celebrados institutos científicos mantendo a seu serviço imprensas próprias.
Com referência a cada um destes pontos e outros indicados na consulta, procurarei responder […].
Reconheço, como reconhecem todos, que a tipografia da Academia Real das Ciências de Lisboa, que circunstâncias diversas […] haviam reduzido a uma situação mais que deplorável, vergonhosa, se tem progressivamente aperfeiçoado, à custa, decerto, de pesados sacrifícios, podendo, com efeito, alguns dos seus trabalhos figurar sem desdouro a par dos de estabelecimentos de superior importância e categoria, mas porque é assim, e porque aquela tipografia satisfaz plenamente o serviço académico, segundo se afirma na consulta, não deve tirar-se daí como rigorosa consequência, que tal serviço se não possa satisfazer, pelo menos, tão completa e perfeitamente, não digo já na Imprensa Nacional, cujos vastos recursos são conhecidos, mas ainda em algumas das excelentes tipografias, estabelecidas em Lisboa como, por exemplo, a Universal, do sr. Comendador Tomás Quintino Antunes, as dos srs. Castro Irmão e Lallement Frères, etc.
[…]
Também desconheço o mecanismo administrativo e técnico da Imprensa da Academia, como o método que adota no processo das suas contas: faltam-me, pois, elementos essenciais para fazer comparações de preços, e na ausência de tais elementos, quaisquer cálculos seriam temerários ou graciosos. Devo, entretanto, notar, que examinando um dos documentos que acompanham a consulta – a tabela dos salários dos tipógrafos que compõem o quadro da oficina da academia – por ele observei, com surpresa, que artistas de um estabelecimento oficial perfeitamente análogo à Imprensa do Estado, se sujeitam a uma tarifa muito inferior à que está aqui em vigor […].
Passando a responder à última parte da portaria de 18 de julho, em que se me ordena que eu indique, para o caso de se decretar a supressão da tipografia académica, quais os meios que julgue mais acertados e económicos de se levar a efeito a transferência do pessoal e material respetivo, etc., cumpre-me dizer, que é minha opinião, dada a hipótese prevista, que não permitindo a capacidade do edifício da Imprensa Nacional, apesar das suas contínuas modificações e melhoramentos, a remoção imediata de todo o material tipográfico que ali existe, bem como a das obras de fundo depositadas nos respetivos armazéns, seria acertado conservar, por enquanto, a tipografia como está e no mesmo local, considerando-a como uma secção da Imprensa Nacional.[…]»