Detalhes de documento

  • Arquivo
    INCM/Arquivo Histórico da Imprensa Nacional
  • Cota
    157
  • Tipo de documento
    Ofício
  • De:
    Administrador Geral
  • Para:
    Presidente do Conselho de Ministros
Transcrição

“(…) Em cumprimento da determinação verbal de V. Ex.cia procedi hoje às necessárias averiguações no sentido de saber a quem pertencia a responsabilidade da local publicada pela “Capital”, de domingo último, sob a epigrafe “A Vitória da República”, e na qual se davam vários pormenores sobre o orçamento que no dia imediato foi presente à Câmara dos Deputados.
Em minha opinião é de fácil presunção, mas de difícil prova, que a local em questão foi fornecida à “Capital” pelo revisor do estabelecimento Artur Caldas, visto ser repórter político daquele jornal e aqui ter estado a trabalhar no domingo referido até às 3 horas da tarde. Tendo-o, porém, ouvido sobre o assunto, não posso manifestar a V. Ex.cia senão a suspeita de que foi ele o informador da citada local, porquanto me negou que a tivesse escrito ou mesmo inspirado, avançando a propósito que tiveram uma conversa sobre o orçamento com S. Ex.cia o Ministro do Fomento, mas que dessa conversa mesmo não fizera uso, visto que o Sr. Dr. Estevão de Vasconcelos o mandara chamar no sábado ao seu gabinete e lhe pedira que nada dissesse acerca do assunto, na “Capital”.
Insistindo com o revisor Caldas sobre a natureza das informações que lhe fornecera S. Ex.cia, o Ministro do Fomento, respondeu-me que aquele ilustre titular lhe observara, entre outros pormenores, que o seu orçamento aparecia carregado em consequência das verbas extraordinárias que foi preciso despender com os operários das obras públicas, esclarecimento que, de facto, apareceu no local da “Capital”, mas que, repito a V. Ex.cia, ele negou ter dado áquele jornal, para onde aliás pretextou ter de ir trabalhar quando saiu às 3 horas da tarde, mas onde me disse não ter ido senão depois das 6 horas da tarde, a fim de buscar um bilhete de teatro. Quanto à circunstância, a que alude o ofício do chefe da revisão Sr. José António Dias Coelho, cuja copia remeto junto, de haver na segunda-feira ao meio dia insistido com o compositor Inácio Silva para que lhe fornecesse umas provas do orçamento, de onde pudesse tirar umas notas, e ao que aquele justificadamente se recusou, porque o roçamento ainda não fora apresentado à Câmara, o revisor Caldas confirmou o facto, desculpando-o porém com a circunstância de adiantar serviço para a “Capital” e porque calculava que a proposta de lei de S. Ex.cia o Ministro das Finanças seria distribuída aos Deputados e à imprensa.
Independentemente do revisor Caldas, sobre quem de direito recaem as maiores suspeitas de inconfidência, mandei que por escrito o chefe da revisão me informasse o que soubesse, o que ele fez como V. Ex.cia terá ensejo de verificar, e ouvi os revisores Estevão de Matos, Baptista Coelho e Castelo Branco; os compositores Carlos Silva e Inácio Silva, e o impressor Alfredo de Carvalho, sendo todos unanimes em enjeitar responsabilidades em tal assunto e manifestando pelo contrário a suspeita de que dosse o revisor Caldas o informador da “Capital”
Nestas condições, e na impossibilidade de poder obter a prova da responsabilidade do revisor Caldas, peço licença para submeter o assunto à elevada apreciação de V. Ex.cia, aguardando as suas ordens. Como simples elucidação cumpre-me finalmente dizer a V. Ex.cia que o procedimento do revisor Caldas nesta Imprensa não se tem impostos â menor consideração, estando por sinal pendente de resolução de S. Ex.cia o Ministro do Interior um inquérito que aos seus actos fez ultimamente o Sr. Deputado Carlos Ferreira.

Saúde e Fraternidade.

Administração Geral da Imprensa Nacional, 20 de dezembro de 1911

Ex.mo Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos, ilustre Presidente do Conselho de Ministros.

O Administrador Geral,
Luís Derouet.

(pp. 44-46)