“Meu pai foi a razão de me ter tornado escritora”. Quem o diz é a escritora brasileira Hilda de Almeida Prado Hilst, nascida em Jaú (São Paulo), no ano de 1930. Morreu em 2004, na sua Casa da Sol (em Campinas, estado de São Paulo), onde passou a maior parte da sua vida – rodeada de matemáticos, físicos, artistas plásticos, atores e dos seus inseparáveis cães –, num local que chamava de sagrado e que, não só carregava a felicidade luminosa que lhe dava nome, como descrevia com perfeição esta escritora brasileira. A Casa do Sol foi, aliás, um oásis para muitos outros artistas num momento em que a ditadura militar governava o país, deixando pouca margem para a liberdade criativa.
Licenciada em Direito, Hilda Hilst produziu ininterruptamente desde 1950, ano em que lançou o livro de poemas “Presságio”, até 2002. Fluxo-Poema (1970) é a sua primeira prosa ficcional, à qual se seguem crónicas, escrita dramatúrgica e outros textos. Neles abordou temas tão antagónicos como vida e morte, sagrado e profano ou belo e feio.
Ao longo da vida, em diversas entrevistas, falou da sensação de não ser reconhecida, de sentir que os seus livros não eram promovidos ou valorizados. No entanto, são muitos os prémios que recebeu, como o PEN Clube de São Paulo, Jabuti, Cassiano Ricardo e Anchieta, ou ainda de melhor livro do ano (1977) e de Grande Prémio da Crítica para o conjunto da obra, pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Encontramo-la traduzida em países tão diversos como a Argentina, França, Itália, Canadá, Alemanha, Estados Unidos e Portugal.
Na sequência desta sentida falta de reconhecimento lançou, em 1990, um livro que apresenta como sendo um incómodo para o mercado editorial: “O caderno rosa de Lori Lamby”. Estando muito próximo da literatura pornográfica, surgia como uma oportunidade de trabalhar temas difíceis como a pedofilia. Como diria numa entrevista concedida à TV Cultura nesse ano: “É um ato de agressão, não é um livro. É uma banana (…) que estou dando aos editores, ao mercado editorial, porque durante quarenta anos eu trabalhei a sério, tive um excesso de seriedade, de lucidez, e não aconteceu absolutamente nada. E agora acho que as pessoas precisam de ser acordadas”.
Com um lugar só seu no universo da literatura, é difícil separá-la de outras enormes escritoras como a conterrânea Lygia Fagundes Telles (sua grande amiga), Clarice Lispector ou a portuguesa Natália Correia, espíritos igualmente fortes e apaixonados, que deixaram uma marca profunda nas letras do mundo, lançando sementes que ainda hoje dão frutos.
Com a Imprensa Nacional publicou:
Da Poesia