
«Eu sou fotografia», foi assim que Fernando Lemos começou a sua intervenção em junho deste ano, quando esteve na Biblioteca da Imprensa Nacional para o lançamento do n.º 04 da «Série Ph.», dedicado à sua obra fotográfica.
Neste que seria o seu derradeiro regresso a Lisboa, Lemos aproveitou também para inaugurar a sua primeira exposição antológica, no MUDE, cujo o catálogo tivemos a honra de editar.
Mas Lemos sabia-o, e disse-o nessa sessão da Biblioteca da Imprensa Nacional, regressava a casa, à sua Lisboa, principalmente para «pôr o amor em dia». E Lisboa retribui-lhe.
Aquela tarde do dia 5 de junho no n.º 135 da Escola Politécnica, em Lisboa, foi não mais e tão só do que a justa e merecidíssima homenagem, emocionada e amplamente ovacionada de pé ao artista que regressava a casa para se despedir dela. E a sessão foi também uma manifestação de reconhecimento e de profunda gratidão de todos os presentes perante um mestre das artes plásticas.
Fernando Lemos deixou-nos ontem, aos 93 anos de idade.
Recorde-se que Fernando Lemos nasceu em Lisboa em 1926 e fixou residência no Brasil em 1953. Desenvolveu uma atividade multifacetada, entre a fotografia, a pintura, o desenho, a tapeçaria, o design (gráfico e industrial) e também a escrita. É uma das maiores referências na afirmação do Surrealismo português (aliás dedica a Ph. 03 ao amigo-o também surrealista José-Augusto França). Está representado em diversas coleções nacionais e internacionais e tem realizado regularmente exposições individuais e coletivas. Fixou no efémero retrato do tempo rostos como o de Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena, Mário Cesariny, Helena Vieira da Silva, Hilda Hilst, Arpad Szenes, e tantos outros.
Em 2018, o Estado português, atribuiu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a que se somam inúmeras distinções, prémios nacionais e internacionais.
A INCM lamenta, com profundo pesar, a morte de Fernando Lemos e expressa as sentidas condolências à família.
Até sempre Fernando Lemos.