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A Mauritshuis, na Haia – um dos mais importantes museus holandeses, que acolhe grandes tesouros nacionais como a famosa Rapariga do Brinco de Pérola de Vermeer ou O Pintassilgo de Carel Fabritius – retirou recentemente do átrio de entrada o busto seu fundador, na sequência da recente reorganização da coleção.
O conde Johan Maurits van Nassau-Siegen foi governador da colónia holandesa no Brasil entre 1636 e 1644, e o museu tem em curso um grande projeto de investigação com a Universidade de Leiden sobre a sua presença no Brasil e a sua ligação à história da escravatura. O objetivo da remodelação é, pois, permitir que a Mauritshuis passe a refletir a preocupação crescente da sociedade relativamente à história da colonização e ao comércio de escravos. O museu pretende assim atualizar a visão sobre o passado, partilhando com os visitantes todos os seus aspetos, tanto os positivos como os negativos.
Quanto ao busto de Maurits, que se tratava apenas de uma cópia em gesso, a direção entendeu que ele deixava de fazer sentido no local onde se encontrava, já que o seu original em pedra passou a integrar o novo núcleo dedicado ao fundador.
Politicamente, contudo, a decisão desencadeou várias reações adversas, designadamente da parte do primeiro-ministro Mark Rutte, que alertou para o perigo de julgar o passado distante apenas à luz dos dias de hoje.
As mudanças de narrativa, a reabilitação de períodos menos abonatórios da história de cada país, a revisão de perspetivas, a abordagem moral e ética do passado, ou a forma «correta» de olhar a História estão longe de ser questões consensuais. A discussão sobre o que são decisões «politicamente corretas» ou o que pode ser considerado simples «branqueamento» civilizacional está hoje no centro do debate social e político, e irá prolongar-se provavelmente durante muito tempo. Mas é também um problema que se coloca à historiografia, cabendo aos investigadores o dever de lhe conferir o indispensável caráter científico e soluções mais duradouras.
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