28 de janeiro de 1916
Há 103 anos e 1 dia nascia Vergílio Ferreira, escritor, professor e autor de uma das obras ficcionais mais importantes e singulares do século XX português. Vergílio Ferreira foi também um notável ensaísta e diarista e Prémio Camões em 1992. Tem hoje um agrupamento de escolas (em Lisboa), uma Biblioteca (em Gouveia) e um Prémio Literário (instituído pela Universidade de Évora) que levam o seu nome. A Imprensa Nacional dedicou-lhe um «Essencial sobre…», de autoria de Helder Godinho, do qual deixamos aqui um excerto:
«Vergílio Ferreira nasceu em Melo, Serra da Estrela, a 28 de janeiro de 1916 e morreu em Lisboa a 1 de março de 1996. Em 1926 entrou no Seminário do Fundão, donde viria a sair alguns anos depois, em 1933, e cuja experiência, fortemente negativa, é contada no romance Manhã Submersa, indo concluir o curso dos liceus na Guarda, em 1935, tendo, em seguida, ingressado na Universidade de Coimbra, pela qual se licenciou em Filologia Clássica em 1940. Dedicou‑se, desde logo, ao ensino secundário, profissão que manteve ao longo de toda a sua vida ativa, tendo lecionado em Faro, Bragança, Évora (onde se passará Aparição) e Lisboa, durante vários anos no Liceu de Camões, até ao fim da sua carreira.
A obra de Vergílio Ferreira, desenvolvida ao longo de cerca de sessenta anos, é uma das mais originais e marcantes de toda a literatura portuguesa. O seu autor ficou conhecido sobretudo pelos romances, mas a sua obra contém não só romances, como também contos, ensaios e diários, tendo Vergílio Ferreira incluído nesta categoria o livro de pensamentos Pensar, o que obrigou a que o livro póstumo Escrever, que, de algum modo, continua Pensar, fosse igualmente incluído nos diários. Marginalmente, escreveu poemas, logo desde a adolescência até ao último livro, Escrever, publicado postumamente, no qual deixou poemas que deveriam ser colocados em lugares diversos. No entanto, a sua veia é de prosador. A poesia vai ser importante mas enquanto dimensão dominante de toda a prosa, onde também convergirá a reflexão filosófica (os romances são «romances‑problema»), tornando a sua obra uma das mais densas e líricas da nossa literatura. Porque Vergílio Ferreira é, essencialmente, um romancista que não separa a criação ficcional de uma reflexão filosófica sobre a condição humana, o que faz com que a sua obra tenha uma profunda unidade temática, pois os muitos temas que a percorrem, quer na ficção quer no ensaio, desenvolvem‑se e articulam‑se como variações de um tema único: o Homem e a sua redenção, graças à consciência da grandeza que o define e que se cria nele e nos limites do seu corpo.
A importância da obra de Vergílio Ferreira tem sido objeto de amplo reconhecimento nacional e internacional. O Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa de Escritores, que recebeu, em 1960, aquando da publicação de Aparição, abriu‑lhe as portas de uma fama que outros prémios foram sublinhando, de que destaco o Prémio Camões, em 1992. Os prémios Fémina, em 1990, e o Europália, em 1991, representam, também, dois marcos importantes no reconhecimento internacional, que se manifestou ainda em traduções dos seus romances em várias línguas (alemão, castelhano, francês, grego, neerlandês, polaco, russo).
Há um aspeto que importa destacar na sua biografia: é que ela foi marcada pela Ausência, em dois momentos fundamentais. Com efeito, os pais emigraram para os Estados Unidos quando o pequeno Vergílio tinha apenas 2 ou 3 anos. Mais tarde, quando teria cerca de 22 anos e era estudante na Universidade de Coimbra, uma colega que amava morreu. Estas duas ausências vão estar na base de grande parte da problemática vergiliana e serão diretamente evocadas em muitos dos seus livros. Elas constituem um núcleo estável e duradouro que a evolução cultural do autor irá fazendo encarnar em algumas faces diversas. (…)»
Helder Godinho in O Essencial sobre Vergílio Ferreira (pp. 7, 8 e 9)
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