«A GLOBALIZAÇÃO DE ROSTO HUMANO» — Ciclo de Conferências
«POR REVELAR». Teatro na Biblioteca (Lisboa)
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«POR REVELAR». Teatro na Biblioteca (Lisboa)
- Cultura
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Alexandrina, como era – Todos os Poemas, de J.H. Santos Barros
E assim encontramos o menino, o rapaz e o homem que ele foi e nos deixou, para o fim da sua vida, já em plena maturidade, as peças de primeira água pelas quais deverá ser julgado, quatro ou cinco que me atrevo a considerar de muito alta qualidade consoante me atrevo a pensar que resistirão ao tempo tanto quanto seja o que for resiste ao tempo porque a eternidade é curta mas sempre há uns anos mais compridos que outros. ‘Fazer versos dói’, Alexandrina, como era e outros textos assim permanecerão, julgo eu, entre o melhor que a sua época produziu.
É desta forma que António Lobo Antunes apresenta a obra de J. H. Santos Barros, no prefácio que escreveu para esta edição. Alexandrina, como era – Todos os Poemas trata-se da recolha da obra desta poeta açoriano cuja morte precoce inviabilizou um percurso ascendente que vinha a ser traçado.
Este volume, publicado na coleção «Plural» reúne toda a poesia de J. H. Santos Barros, desde o primeiro livro, Novíssima Poesia Açoriana (1964), até aos últimos poemas inéditos, encontrados no espólio que tinham como título Nas Vertentes das Ilhas e Albafar.
Jorge Reis-Sá, coordenador da coleção da Imprensa Nacional, afirma esperar que J.H. Barros Santos seja lembrado «como um dos mais inventivos poetas de língua portuguesa, imerecedor do esquecimento a que foi votado durante quase 40 anos».
Recorde-se que José Henrique Santos Barros nasceu em 1946 em Angra do Heroísmo e morreu, num acidente de viação, em Espanha, em maio de 1983.
Esta edição pretende pois trazer uma nova oportunidade para revisitar todos os trabalhos de Santos Barros além da oportunidade para dar a este poeta açoriano o lugar que merece na Literatura Portuguesa.
BIOLOGIA SECRETA
Havemos meu amor
de beber as águas
da mesma fonte
Sacrificaremos então
um beijo frio
e levado ao planalto
do sol
Despidos
gozaremos o acesso
proibido da nossa geografia
pág. 29
TEMPO DE LUTA
No tempo em que lutámos
com espadas de pau e pistolas de dedos
nesse tempo em que sabíamos
que a mãe era o totem todo‑poderoso
que perseguia os índios e ganhava a guerra
e só nos exigia o sacrifício dos sapatos limpos
no tempo em que o mundo era uma bola alegre
igual à do futebol que o pai do João comprou
livres fomos caminhando nas ondas
até que chegámos a uma praia e ficámos
desarmados sem totem sem bola sem sacrifícios fáceis por fazer
desde então muita coisa aconteceu
por exemplo
o João foi à guerra e morreu.
Pág.64
BOA NOVA
Cessou a febre oceânica esta tarde.
O vento de sul trouxe mesmo a notícia boa: as nuvens deixarão o
arquipélago, após 400 anos de estacionamento. A empregada doméstica
ajeitou o menino da (o dela não) para o primeiro passeio ao jardim, os
engraxadores fazem a greve do contentamento, ali na varanda o casal
aparece após 40 anos, com os braços desnudados, sabe‑
se já que se
preparam discursos oficiais, que a rádio vai fazer um inquerito‑
sondagem
para que se saiba qual das várias tonalidades azul‑celeste
é preferida
pelas pessoas e que os jornais, amanhã, aumentarão a tiragem para
mais 50 exemplares.
Expressamente do estrangeiro virão 5000 jornalistas que farão a
reportagem para uma revista pornográfica. A Liga dos Bons Costumes,
atendendo à necessidade de desenvolver a indústria do turismo, observará
um dia de folga.
Pág. 237
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